LANÇAMENTO: MEIOS E FINS: reflexões sobre democracia e tomada de poder do estado – Zoe Baker
A crítica anarquista à tomada do poder do Estado é frequentemente caricaturada como sendo baseada em uma oposição moral abstrata ao Estado que ignora as duras realidades que estamos enfrentando atualmente. No entanto, ao ler atentamente os autores anarquistas históricos, descobre-se que a verdadeira razão pela qual eles argumentavam que os revolucionários não deveriam tomar o poder do Estado existente era porque isso era impraticável para atingir seus objetivos.
Esses argumentos práticos estavam fundamentados em sua compreensão da sociedade. Os anarquistas sustentavam que a sociedade era constituída por seres humanos com formas particulares de consciência engajados em atividades – exercendo capacidades para satisfazer impulsos motivacionais – e, ao fazê-las, transformavam simultaneamente a si mesmos e o mundo ao seu redor. Por exemplo, quando os trabalhadores entram em greve, pode ocorrer uma série de transformações fundamentais. Os trabalhadores podem desenvolver suas capacidades aprendendo a se envolver em ações diretas e a autogerir suas vidas; adquirir novos impulsos motivacionais, como o desejo de enfrentar o chefe ou de se tornar um membro ativo de um sindicato; e transformar suas formas de consciência, ou seja, as maneiras específicas pelas quais eles vivenciam, conceituam e entendem o mundo, como, por exemplo, passando a ver o chefe como um inimigo de classe ou percebendo que, para melhorar sua situação, precisam se organizar coletivamente com outros trabalhadores. Ao se envolverem em tais atividades, os trabalhadores não apenas se transformam, mas também desenvolvem novas relações sociais. Eles formam vínculos de apoio mútuo e solidariedade com os colegas de trabalho e, ao mesmo tempo, transformam as condições sociais em que vivem, como, por exemplo, ganhar melhores salários ou fazer com que o chefe tenha medo deles. Isso geralmente é chamado de teoria da práxis ou prática e é um dos muitos compromissos teóricos que os anarquistas e Marx têm em comum.